POLÍTICA
A um ano das eleições de 2026, como se organiza a política do RS
   
Análise de Rodrigo Gonzales professor da UFRGS

Por Flávia Simões - Correio do Povo
04/10/2025 17h48

A política gaúcha tem o histórico de ser avessa à influência nacional. A análise é de Rodrigo Stumpf Gonzalez, professor de Ciência Política da Ufrgs, mas encontra eco quando analisamos o cenário político no Rio Grande do Sul a um ano das eleições. Até agora, oito nomes já se apresentaram como pré-candidatos ao Palácio Piratini, nem todos de partidos diferentes. E o desenho de alianças vai tomando forma, destoando, em alguns casos, daquilo que os políticos discutem para o cenário nacional.

A situação de cada partido, da esquerda à direita:

PT

PDT

PSol

PSB

PCdoB

MDB

PSD

PSDB

PL

PP

União Brasil

Republicanos

Novo

Podemos

PRD

Por exemplo, enquanto o PDT gaúcho tem uma pré-candidata que considera uma aliança com partidos como o MDB, nacionalmente os trabalhistas devem embarcar na campanha do presidente Lula (PT). Aliás, o próprio MDB pode estar no palanque do presidente, enquanto no Rio Grande do Sul qualquer aliança com o PT é improvável e dificilmente a executiva nacional petista interferiria nas escolhas do RS.

 

A mesma coisa acontece no PL. Nacionalmente, não há nenhum consenso sobre quem será o candidato do partido, à medida que no Rio Grande do Sul, Luciano Zucco (PL) já tem a sua chapa quase completa e o bloco na rua.

PT

A um ano do pleito, os petistas ainda estudam onde encaixar suas peças. Uma delas é o atual presidente da Conab, Edegar Pretto, que conquistou prestígio dentro da sigla quando quase levou o partido para o segundo turno nas eleições de 2022 – espaço que o PT não ocupa desde 2014. A outra é o deputado federal Paulo Pimenta. Único gaúcho a conquistar um ministério durante a quarta gestão do presidente Lula, ele ganhou o comando da secretaria da Reconstrução, que coordenavam as ações do governo federal no Estado após as enchentes que varreram o Rio Grande do Sul.

Apesar disso, Pimenta acabou saindo desgastado do governo, onde comandava a Comunicação. Um dos cenários iniciais era montar uma chapa Edegar-Pimenta, com um nome ao Piratini e outro para o Senado, ainda mais após o anúncio de que o atual senador Paulo Paim se aposentaria. Assim, o partido ainda teria duas vagas para barganhar com os outras siglas, de vice e senador. Acontece que Paim fala em recuar da ideia de não concorrer, sob justificativa de que há um forte apelo por seu nome, dificultando a composição da chapa.

Enquanto isso, os petistas também precisam discutir as suas alianças. Uma parceria com o PDT era bem vista por uma ala do partido, mas ficou mais complicada, uma vez que o PDT gaúcho sinaliza que não deverá abrir mão de lançar Juliana Brizola como cabeça de chapa, o que dificulta ainda mais as articulações; visto que, apesar das declarações de líderes petistas de que todas as negociações estão em aberto, é improvável que o partido abra mão de liderar essa composição.

E, visto o estado de incertezas dentro do PSB, uma parceria com os socialistas também não é considerada certa. Diante desse tabuleiro de incertezas, o PT pode contar com o PSol, que está disposto a reeditar a parceria das últimas duas eleições mas ainda mantém receio sobre os nomes apresentados pelos petistas. Na próxima sexta-feira, 10, o PT se reúne novamente para discutir os caminhos do partido.

PDT

O PDT não apenas tem uma pré-candidata, como ela já está com a campanha em pleno vapor. A ex-deputada estadual Juliana Brizola têm aparecido bem colocada nas pesquisas eleitorais desde o início do ano, o que animou os trabalhistas e impulsionou o seu nome para concorrer ao Palácio Piratini.

Em 2024, Juliana disputou a prefeitura de Porto Alegre e, em uma campanha crescente, acabou ficando em terceiro lugar, com 21% dos votos. Agora, os pedestistas trabalham a candidatura da ex-deputada e não parecem dispostos, por ora, a abrir mão da cabeça de chapa. Sem problema em se aproximar do centro – e até de partidos mais à direita –, Juliana tem conversado com siglas que vão desde o PT e o PSol até o Republicanos e o MDB, de Gabriel Souza. Na disputa à prefeitura, o seu vice foi do União Brasil. Objetivo é se apresentar como uma candidatura que foge da polarização mas, ainda assim, consegue articular com diferentes campos. Atualmente, o PDT está à frente de duas secretarias no governo Leite.

PSol

Disposto a reeditar a dobradinha das últimas eleições com o PT, o PSol avalia as movimentações dos petistas. Em um recente movimento, uma ala dentro do partido defende de que o nome da chapa seja o ex-governador Tarso Genro (PT), mas a ideia não teve eco dentro do PT.

Por isso, apresentaram o nome da deputada federal Fernanda Melchionna como pré-candidata ao Piratini, para uma possível costura com Edegar Pretto ou Paulo Pimenta na vice, visto que a avaliação interna é de que a deputada possui tanto peso eleitoral quanto os dois nomes petistas, principalmente em Porto Alegre. Cientes, contudo, de que o PT dificilmente abre mão da cabeça de chapa, a aposta principal é a vinda da ex-deputada Manuela D’Ávila, que deixou o PCdoB, para o partido, para concorrer a uma das vagas ao Senado.

PSB

Os socialistas adentram as eleições ainda com traumas de um racha. Após o partido eleger a nova diretoria estadual, com o ex-prefeito de Cachoeirinha José Stédile como presidente, um grupo dentro da sigla recorreu à executiva nacional pedindo intervenção. O grupo, liderado pelo ex-deputado Beto Albuquerque, defende que o partido construa uma aliança com o PT, repetindo a dobradinha nacional. Diferente da nova direção, que conta com cargos no governo de Eduardo Leite (PSD) e aposta em uma aliança com partidos do centro. Para sanar os problemas, a executiva nacional instaurou uma comissão provisória que será responsável por conduzir as articulações no processo eleitoral. Stédile pretende colocar em votação dentro das regionais a questão do apoio à majoritária, com todos os nomes do “campo democrático” na mesa, incluindo Gabriel Souza (MDB), Juliana Brizola (PDT), Marcelo Maranata (PSDB) e Edegar Pretto (PT). O presidente defende, contudo, que o foco do partido esteja nas proporcionais. Assim como demais siglas de menor envergadura, a missão é vencer a cláusula de barreira.

PCdoB

Em uma federação bem-sucedida com o PT e PV, o objetivo do partido no Estado é reeleger as suas duas deputadas: Bruna Rodrigues, estadual; e Daiana Santos, federal.

MDB

n Os emedebistas já contam com um pré-candidato ao governo do Estado: o vice-governador, Gabriel Souza. Sucessor natural do governador Eduardo Leite (PSD), Gabriel tem duas vantagens na corrida eleitoral: a de poder mostrar para população seu modo de governar, visto que ele deve assumir o Piratini em uma provável renúncia de Leite; e o privilégio do cargo, que sufoca naturalmente qualquer possível candidato dentro do próprio MDB.

No entanto, apesar do caminho livre, não significa que seu nome é hegemônico. Mesmo sem disputas internas, ainda há grupos que não aderiram totalmente à campanha de Gabriel após o racha que o partido enfrentou na eleição passada e que ainda pode ser sentido. Soma-se a isso o baixo desempenho do vice-governador nas pesquisas eleitorais, que endossa o discurso de uma ala que questiona a viabilidade da sua candidatura.

Para escapar desse cenário, Gabriel precisa articular uma chapa robusta. O atual governo conta com oito partidos na sua base, mas isso não garante que eles estarão junto de Gabriel na corrida ao Piratini. Pelo contrário, tanto o PSDB, ex-partido de Leite, quanto o PP, maior partido da base, já lançaram seus pré-candidatos. O destino do governador, aliás, também é um impasse para Gabriel. Isso porque, se desistir do sonho de concorrer ao Planalto, Leite pode se candidatar para uma das vagas ao Senado em uma provável chapa com o emedebista.

Essa probabilidade dá ao vice-governador o que alguns interlocutores chamam de ‘cabo eleitoral de luxo’, mas ainda não é totalmente garantida. Mas enquanto o impasse segue, o vice-governador só tem duas vagas para levar à mesa de negociação. E, enquanto as coisas ainda estão no campo do diálogo, ele segue articulando com todos os partidos da base, do PP – o mais cobiçado – ao PDT e PSB, que também conversam com siglas mais à esquerda.

PSD

Partido do governador Eduardo Leite há cinco meses, o PSD viu o seu tamanho no Estado dobrar. Além do aumento no número de prefeituras, passando de 12 para 49, também deverá receber uma leva de deputados e vereadores, assim que a janela partidária permitir. Grande parte deles vindos do PSDB, ex-partido do governador. A migração em massa tem como objetivo dar envergadura para a sigla no Estado nas eleições de 2026. Além disso, o PSD pode vir a conquistar ainda uma cadeira no Senado, caso Leite decida recuar no sonho de concorrer ao Planalto e saia vitorioso na disputa por uma vaga no Congresso. Nesse cenário, a probabilidade é que Leite concorra na chapa de seu vice, Gabriel Souza (MDB), seu sucessor natural.

PSDB

Na falta de um, os tucanos têm dois pré-candidatos ao governo do Estado: a ex-prefeita de Pelotas e secretária de Relações Institucionais, Paula Mascarenhas; e o prefeito de Guaíba, Marcelo Maratana, recém ingresso na sigla. Mas as coisas tendem a mudar. No final de outubro, todos os presidentes estaduais e municipais do partido deixarão seus cargos, incluindo Paula, que comanda o partido no Rio Grande do Sul. A medida visa evitar que o PSDB seja utilizado por lideranças que participaram de investidas para o desembarque em massa de tucanos para outros partidos, cenário que encontrou eco no Estado, com a ida do governador Eduardo Leite para o PSD. Com a mudança na presidência, a tendência é de que o grupo que defende a pré-candidatura de Maranata ganhe mais espaço. Com isso, além da pré-candidatura de Paula cair por terra, é provável que haja um distanciamento do governo também, visto que, por ora, o candidato de Leite é o vice, Gabriel Souza.

PL

O impasse do PL nacional em achar um substituto para o ex-presidente Jair Bolsonaro na disputa para presidência não se reflete no Rio Grande do Sul. O deputado federal Luciano Zucco já confirmou sua pré-candidatura e conta, inclusive, com os seus dois candidatos ao Senado: os deputados federais Sanderson, também do PL; e Marcel van Hattem, do Novo.

Agora, o partido está em busca de um nome para ocupar a vaga de vice e mantém conversas, principalmente, com PP e Republicanos – partidos que também são disputados por Gabriel Souza, pré-candidato do governo. Com as duas vagas para o Senado ocupadas, o partido não tem muito a oferecer na mesa de negociação, mas conta com o apoio de grupos importantes dentro das duas siglas. Além disso, a saída do União Brasil, que está federado com o PP, do governo de Lula, também vem a calhar para as negociações.

PP

O PP é, sem dúvida, o partido mais cobiçado da direita no xadrez político atual. Ao eleger 164 prefeituras em 2024, a sigla garantiu uma capilaridade no Interior ainda maior que o MDB; conquistou um número expressivo de deputados estaduais na eleição de 2022 e, em função da federação com o União Brasil, irá dispor de recursos volumosos do Fundo Eleitoral, além de mais tempo na propaganda de rádio e TV.

Mas o tamanho do partido também resulta em problemas internos. Por ora, a sigla se divide em três grupos: aqueles que defendem candidatura própria; os que pregam aliança com o PL, que já tem o deputado federal Luciano Zucco como pré-candidato; e os que apoiam a manutenção da aliança com o governo, em chapa com Gabriel Souza. Em julho, o deputado federal Covatti Filho (PP) anunciou a sua pré-candidatura ao governo do Estado.

O movimento serviu para acalmar os ânimos dentro do partido, mas a ideia de seguir com a candidatura não é inviável. Após um anúncio da deputada estadual Silvana Covatti, mãe de Covattinho, de que seria candidata à vice na chapa de Gabriel; além de movimentos paralelos do secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, que também galgava o posto, o deputado federal e presidente do partido decidiu tomar as rédeas e lançou sua pré-candidatura, na esperança de esfriar o debate e conseguir, com calma, articular os próximos passos.

Na prática, o que o PP realmente espera é o tempo. Conforme o cenário se forma, a sigla segue conversando com o PL e o MDB, além do Republicanos, para decidir qual o caminho ideal a seguir. No entanto, uma coisa é certa: independente do partido que conquiste o Piratini, seja PL ou MDB, o PP será governo.

União Brasil

O foco do União Brasil gaúcho é nas proporcionais. Em função da federação com o PP, o partido teme perder o espaço já conquistado dentro do Legislativo – seja na Câmara dos Deputados ou na Assembleia –, em função do tamanho dos Progressistas no Rio Grande do Sul. Por isso, as articulações visam construir uma nominata que seja capaz de bater, em números, com o PP, a fim de conseguir manter, pelo menos, um deputado federal e os três estaduais. Na disputa ao Piratini, como estão legalmente juntos, onde o PP estiver, o União Brasil também estará. Mas vale relembrar que o partido tem uma aliança sólida com o governo de Eduardo Leite. Na Assembleia Legislativa, a campanha para continuar na base é forte.

Republicanos

O Republicanos gaúcho está em situação parecida com o PP. Apesar de compor, na teoria, a base do governo Leite, tanto na Assembleia quanto dentro do governo, com o deputado federal Carlos Gomes na secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, o partido ainda aguarda para decidir de que lado da balança ficará. Isso porque, na prática, parte dos deputados estaduais já desempenham papel de oposição ao governo e já deram declarações públicas de apoio à pré-candidatura de Luciano Zucco (PL). Na última eleição, Republicanos e PL estiveram juntos e, com sucesso, elegeram o senador Hamilton Mourão. Agora, alguns grupos tentam reeditar a dobradinha.

Enquanto isso, Gabriel Souza já tem articulado para tentar manter a sigla na base. Uma decisão, contudo, só deve vir após o desenrolar do cenário nacional. O partido aguarda os próximos movimentos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que até o momento mantém um vai-e-vem quanto à sua candidatura ao Planalto.

Novo

Desde sua criação, em 2013, o Novo gaúcho nunca havia feito coalizões em eleições gerais. Até este ano. Na busca por aumentar as cadeiras no Congresso e sob ameaça de, novamente, não atingir a cláusula de barreira, o partido lançou o deputado federal Marcel van Hattem como candidato ao Senado na chapa de Luciano Zucco (PL).

Podemos

Sem pretensão de apresentar candidatos à majoritária e longe de bater o martelo quanto a quem apoiar, o foco é nas proporcionais. O partido busca aumentar o número de cadeiras na Assembleia Legislativa e voltar a eleger um deputado federal. Primeiro partido a declarar apoio à candidatura de Eduardo Leite (PSD) em 2022, o Podemos segue alinhado ao governo, mas não deixou de conversar com os outros pré-candidatos, como Luciano Zucco (PL), Covatti Filho (PP) e Marcelo Maranata (PSDB).

PRD

Em vias de oficializar uma federação com o Solidariedade – na tentativa de conseguir vencer a cláusula de barreira – o PRD gaúcho passa por crise. Fusão entre o PTB e o Patriotas, o PRD não acumula nomes de liderança no Estado. Além de quatro prefeituras, o partido tem uma única cadeira na Assembleia, a de Elizandro Sabino. Responsável pela direção estadual, ele deixou o comando da sigla e rompeu com a direção nacional após a notícia da federação, em junho deste ano.


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